Bom dia!
Hoje vou escrever sobre alguns tópicos em vez de escrever muito sobre um só. São questões que ainda não estão amadurecidas na minha cabeça, mas que me inquietam ou fascinam de alguma forma. Posso fingir que estou testando um novo formato ou admitir que essa semana foi conturbada e não consegui desenvolver nada direito. Fica a seu critério.
#01: O drama do Instagram
Eu não acredito que estou escrevendo sobre isso depois do tanto que já foi dito e da preguiça enorme que desenvolvi pelo tema. Se você também está se sentindo assim, pode pular esse aqui, vou entender!
Mas o que achei interessante dessa discussão veio de uma newsletter chamada Garbage Day. O autor, Ryan Broderick, conseguiu explicar algo que eu vinha tentando elaborar desde que o TikTok estourou e passou a afirmar que não era uma rede social, mas sim uma plataforma de vídeos, o que, de certa forma, eu concordei.
O que o Ryan diz é que existe uma internet local (que também chamo de internet pessoal) e uma internet pública. A internet local seria composta das nossas conversas e grupos de Whatsapp, nossos perfis no começo do Facebook e do Instagram, as DMs, espaços em que mostramos nossas vidas para familiares e amigos e conversamos. Ela parece quase obrigatória para todo mundo que usa a internet, é tipo um cartão de visitas. A internet pública, por sua vez, é feita dos canais no Youtube, da Twitch, do Substack, do TikTok. “Para muitas pessoas, ela é consumida como se fosse a Netflix. Você passa pelo feed e talvez se sinta compelido a gravar um vídeo também ou começar um pequeno projeto, mas você ficaria surpreso se encontrasse a sua avó por ali”.
Para mim, o que estamos vivendo agora é meio que a morte da internet pessoal. Ou seja, plataformas que tinham o social graph1 como fundação, como o Instagram, estão migrando com força para o engajamento momentâneo. E eu acho que isso está totalmente relacionado a uma internet em que todos parecem estar tentando virar estrelas, criar um negócio milionário ou “empreender”. Não sei se você também se sente assim, mas sempre que caio em um perfil novo a sensação imediata é de que a pessoa está aguardando um post viralizar ou marcas começarem a entrar em contato para ela largar tudo e virar influenciadora. O head do Instagram fica dizendo que não estamos mais vendo nossos amigos no feed porque as pessoas comuns agora preferem se concentrar nos stories e nas DMs. Será que é por que nesse universo, em que todos somos estrelas em potencial, ninguém quer ser visto como um flop com poucos comentários e likes em um feed que declaradamente já não tem o mesmo alcance de antes?
O que me assusta nessa história toda é perceber que estamos repetindo online a ilusão da “meritocracia do vendedor ambulante que se se esforçar o suficiente vai virar o Silvio Santos”. O que o Instagram e as redes sociais mais querem é que todos acreditem que podem ser a próxima Boca Rosa (o head já afirmou que o grande foco da plataforma é em creators). Assim, continuamos o alimentando gratuitamente com a matéria-prima mais desejada pelo Vale do Silício: *o conteúdo*.
Quem explica isso é Eugênio Bucci no livro a Superindústria do Imaginário. Ele aponta que o capitalismo atual está bem mais para superindustrial do que pós-industrial. Ou seja, o trabalho agora está camuflado de lazer para fazer com que nunca paremos de trabalhar (aka deslizar o dedo na tela, consumir e produzir conteúdo). No fim, teremos poucos que “chegarão lá” e muitos que seguirão tentando e recebendo migalhas. Alguns dados relevantes sobre isso: 23% das pessoas que se dizem influenciadores no Brasil não ganham nada pelo trabalho nas redes. Metade do total fatura menos de R$ 500 e só 14% mais de R$ 2500 mensais.
Eu realmente acho que a real questão é muito menos sobre gostar de fotos ou vídeos e mais sobre com qual intenção a maior parte das pessoas está usando as redes agora. Nesse contexto, toda essa reclamação recente me parece contraditória. Na hora de produzir, seja para os nossos próprios perfis ou para os dos lugares em que trabalhamos, queremos que o algoritmo do Instagram funcione como o do TikTok, mas, na hora de consumir, dizemos que tudo o que desejamos é ver fotos aleatórias dos nossos amigos. Acho que a conta não fecha muito bem.
Por último, empresas como o Instagram que estão dentro de um esquema de investidores, acionistas, bolsas de valores, bla bla bla, medem o sucesso a partir de taxas de crescimento. Não basta fazer as pessoas que já estão ali ficarem miseráveis e gastarem mais tempo e dinheiro lá dentro, eles precisam de números de usuários aumentando sempre2. Então, eles vão criar novas ferramentas e entrar nas tendências para tentar angariar mais pessoas constantemente. Se é vídeo curto de gente desconhecida3 que estamos consumindo na concorrência, então é isso que eles farão para tentar encontrar mais usuários ativos. E, claro, presenciar essa mudança de identidade constante é perturbador para quem está lá a passeio.
O que eu sinto é que quando as plataformas crescem e são compradas, elas entram nessa corrida maluca por mais usuários e passam a estar sempre a um passo de abandonar o que em um primeiro momento fez com que gostássemos delas. Quem fazia parte da internet local quer também virar pública, quem é pública quer também virar local. No fim, todas acabam estacionando em algum lugar do meio estranho e desinteressante – se você entrar agora no TikTok, já vai conseguir ver mudanças no design que mostram que eles estão tentando fazer com que você traga e/ou consuma mais seus amigos. Aqui no Substack também enxergo esse mesmo caminho. Há um claro desejo de virar rede social ao colocar a opção de likes, comentários, compartilhamentos, feed, aplicativo... Por enquanto, consigo abstrair, mas acho que vai durar pouco.
#02: Ser uma pessoa introvertida
Outro dia caí numa entrevista com um neurocientista que estava definindo o que são pessoas introvertidas e extrovertidas e, apesar de não ter gravado quase nada da conversa, essa parte ficou na minha cabeça. De acordo com ele, introversão não tem muito a ver com timidez, mas sim com como você se sente depois de interações sociais.
Por exemplo, como você se sente depois de ir numa festa ou passar um tempão com amigos no bar? Feliz, pra cima, revigorado? Ou meio de ressaca, com vontade de se fechar no quarto e ficar sozinho para se recuperar? Eu achei a segunda opção bem verossímil para a minha vida.
Sempre me defini como uma pessoa tímida (ler a vida inteira que piscianas são tímidas provavelmente ajudou), mas, conforme fui crescendo, comecei a encontrar pessoas que diziam que não me viam assim, o que passou a ser um embate na minha cabeça. Ser tímida era, senão o maior, um dos maiores traços da minha personalidade. Mas, de fato, se faço o exercício de me observar de fora, consigo enxergar que muitas vezes ajo de formas que não condizem com o que se entende por timidez. E aí ouvi essa definição do introvertido e ela fez muito sentido, eu realmente tenho “ressaca social”4. Mas, sei lá, ao mesmo tempo, essas definições de pessoas em tímidas, introvertidas, extrovertidas não parecem fazer tanto sentido... Se alguém tiver algo para dizer sobre isso, por favor, escreva nos comentários!
#03: Atividades para inspiração
Minha atividade número 1 para inspiração, como eu disse na newsletter passada, é tomar banho. A número 2 é lavar louça. A número 3 é andar ouvindo música. Quando eu e Lucas fomos viajar para uma cidade que fica a 10 horas de distância de São Paulo, eu, que não dirijo, perguntei se ele conseguia pensar em outras coisas enquanto dirigia ou se precisava ficar o tempo todo focado na estrada. E ele respondeu que dirigir em estrada é uma das atividades de inspiração preferidas dele. O que é curioso para mim é que sentar no carro no banco do passageiro não costuma me trazer nada. Eu comecei a pensar nisso e acho que tem a ver com essa atividade não demandar nenhum tipo de ação. Quando tomamos banho, precisamos mover nossos braços, pensar na ordem das coisas que vamos lavar, tomar cuidado para não escorregar etc. Lavar a louça também envolve atenção, assim como andar na rua e dirigir. Acho que nosso cérebro precisa estar concentrado em alguma coisa para deixar a parte da memória e da imaginação florescer. Talvez tenha a ver com o deep reading/thinking da última newsletter. Eu amo essas atividades, sinto que estou hackeando minha cabeça. Quando ela está travada, é só entrar no chuveiro, lavar a louça ou caminhar, o pensamento viaja e você nem percebe. Quando acaba, sua vida mudou.
É isso por hoje. Espero que você tenha conseguido tirar algo desses pensamentos soltos e até domingo que vem,
Nathalia
Ps: Só queria avisar que não é minha intenção que esta newsletter vire um monte de palavras sobre minhas questões com internet e redes sociais toda semana, mas, por algum motivo, foi isso que naturalmente saiu dos meu dedos nas últimas duas edições. Talvez porque essas coisas realmente me perturbem, talvez como uma forma inconsciente de fugir da escrita mais pessoal do texto #01. Mas eu gostaria de explorar mais esse tipo de escrita, até porque foi meio pra isso que criei este espaço. Vamos ver o que consigo nos próximos capítulos.
Social graph é a rede de amigos, familiares e conhecidos casuais que nós, usuários, montamos meticulosamente ao longo do tempo em redes como Facebook e Instagram. Se você lê em inglês, esta matéria da New Yorker é uma das que mais gostei sobre o tema.
No começo do ano, a Meta perdeu mais de 230 bilhões de dólares em valor de mercado ao anunciar, entre outras coisas, que a média de usuários ativos estava estável. Analistas identificaram o TikTok como um fator importante nessa desaceleração.
Saiu um estudo que diz que o intuito da Gen-Z na internet não é tanto se conectar com os amigos na internet, ela prefere estranhos. Outra pesquisa, essa feita pelo Google, diz que muitos adolescentes sentem que seus youtubers favoritos os entendem mais do que os amigos.
Não sei se tem a ver, mas minha psicóloga na época associou: teve uma vez que eu passei a noite vomitando depois de ter ficado muitas horas com amigos em casa, mesmo eu tendo escolhido esses amigos e gostar muito deles (e não ter bebido, bom frisar).
Adorei tudo, Nathalia. Sobre ser introvertida... também sou e todo mundo é um pouco. O que se define hoje, na teoria, é que todos nós temos características das duas vertentes, mas um dos lados pesa mais. Como se fosse, por exemplo, 30% extro e 70% intro e vice versa. E isso não elimina timidez ou outras características. O mix desses traços é a individualidade de cada um. Me identifico mais com introvertidos e já passei mal pós eventos sociais intensos; digo que preciso de break de socialização para me reabastecer. haha Um vídeo legal sobre isso: https://www.ted.com/talks/susan_cain_the_power_of_introverts?language=pt Beijos!
Naty que delicia te ler. Sempre sofri com o convívio social, gosto de aprender e viver, mas me canso além da conta e deixo muita coisa no ar por timidez. Gostei de me identificar aqui e de aprender com você. Estava com saudades.