Olá e bom dia pela vigésima quarta vez!
Termino este projeto com o mesmo título do primeiro texto porque, na época, escrevi que apesar dele não ser exatamente o que eu estava com vontade de colocar no mundo, ele acabaria servindo como “a minha existência na internet” temporariamente — eu não podia deixar morrer a vontade de me comunicar que havia aparecido. Fechando o círculo hoje, dou tchau para o Substack e apresento o minhaexistencianainternet.blot.im.
No começo do ano passado, alguns meses antes de lançar esta newsletter, o Lucas me apresentou o conceito de digital garden. Tenho visto mais gente escrevendo sobre eles no Brasil desde então, mas vou fazer um breve resumo para quem ainda não ouviu falar.
Em tese, o jardim digital é um espaço seu na internet sem organização por data de publicação e feito preferencialmente fora de plataformas movidas por algoritmos e investidores que podem mudar suas lógicas a qualquer momento — e fazer você perder todo o esforço que aplicou lá de um dia para o outro. O nome jardim vem da sugestão de criar tipos de conteúdo diferentes usando, por exemplo, o sistema da Maggie Appleton (uma designer que tem um texto bem completo sobre o tema):
🌱 Notas tipo sementes: ideias cruas e iniciais
🌿 Notas tipo brotos: trabalhos já mais organizados
🌳 Notas tipo evergreen: trabalhos razoavelmente completos (mas que podem ser podados e transformados ao longo do tempo).
A ideia é que, em um digital garden, seus pensamentos e conhecimentos se comportem como se fossem plantas de um jardim, crescendo, se espalhando para os lados, às vezes morrendo, mas nunca imóveis. A primeira premissa é que, ao contrário do que viraram muitos blogs por causa do Google, não há o compromisso de se criar posts complexos (nem mesmo completos). A segunda é que é interessante experimentar outros layouts que não o de lista de posts organizados “dos mais recentes para os mais antigos”, já que essa prática acabou padronizando demais a internet e limitou formas mais livres e divertidas de se apresentar conhecimento. E a terceira é mirar no “aprender em público” — como a Maggie escreveu: “a prática de compartilhar o que você aprende enquanto você está aprendendo e não só uma década depois quando você já se considerar um ‘expert’".
Sendo uma entusiasta dos blogs e tendo passado a minha adolescência desenhando sites e veículos imaginários, fui rapidamente atraída pela possibilidade de um criar um desses. Porém, depois de explorar vários e ver a aplicação do conceito na prática, cheguei à conclusão que, no fim das contas, um digital garden me parece simplesmente um blog separado por tags.
.blot
Existem várias ferramentas sendo usadas por aí e a maioria demanda um pouco de conhecimento de programação para ser colocada no ar. Tem também quem use o Wordpress ou mesmo o Tumblr, mas há debates se esses poderiam ser classificados como digital gardens.
Decidi usar o Blot, que é uma plataforma simples, independente, que não possui interface de publicação (as postagens são feitas a partir de arquivos que jogo no meu Dropbox) e é altamente customizável. Não acho que é 100% ideal porque ela é feita por uma pessoa que pode desistir de mantê-la viva, mas acompanho bastante as atualizações que o criador dá e por algum motivo me sinto confiante quando ele diz que pretende manter o Blot por “ao menos, décadas”. É muito legal poder conversar com a pessoa por trás do projeto, tirar dúvidas e ver as melhorias acontecendo dia após dia. Fora isso, e mais importante, todo o conteúdo está no meu Dropbox com cópia no meu computador e eles são arquivos extremamente simples, .txt e .jpg, que podem ser transferidos para qualquer outro lugar que me dê na telha.
O que vocês vão encontrar lá
Demorei todos esses meses para divulgar esse meu novo espaço porque queria deixá-lo o mais organizado e polido possível até que percebi que isso era ir EXATAMENTE contra a proposta que tanto me interessou.
Não estou seguindo muito a ideia das notas sementes, brotos, evergreen, mas definitivamente há coisas por lá que são apenas inícios de pensamentos, posts incompletos e coisas que quero ir aparando com o tempo. Como eu adoro registrar e organizar atividades que faço no meu dia a dia, a maior parte do conteúdo no momento é composto por restaurantes que fui (muitos, preciso me controlar), receitas que testei (poucas, quero aumentar), fotos de viagens, séries que estou assistindo, livros que li ano passado. Mas há também o comecinho de alguns assuntos que ando pesquisando, como produtividade e newsletters. Certos posts têm links, outros ideias que fui jogando sem formatação e muitos deles são apenas imagens (por enquanto). É um grande mexidão que mistura blog, álbum de fotos, Notion, bullet journal e o que mais quiser entrar.
Como escrevi no texto de apresentação do espaço, ele também vai servir um pouco como portfólio depois de eu ter quebrado a cabeça pensando em como fazer um. “A ideia de um site com vários links para matérias que já escrevi não parecia fazer jus à minha real experiência dos últimos anos, que foi muito mais voltada a planejamento de conteúdo e gerência de equipe. Deixei meu Linkedin atualizado para contemplar essa parte, mas ainda assim não sentia que essas coisas me representavam como profissional (menos ainda como ser humano). (…) Pra mim, que ando me deixando levar cada dia mais por interesses aleatórios que pouco ou nada têm a ver com a minha formação, foi irresistível não sonhar com um espacinho meu na internet para despejar tudo isso. Um lugar em que minha experiência profissional tem a mesma relevância que as minhas construções no The Sims, em que posso colocar em prática minha obsessão por listas e organização, treinar programação, experimentar formatos e, ainda, registrar este momento único da minha vida para olhá-lo com carinho no futuro.”
Com esse “jardim digital” não tenho a ambição de conquistar muitos leitores, como às vezes batia a vontade por aqui — até porque sei dos desafios de se ter um site hoje em dia. Quero mesmo apenas manter uma presença digital do jeito que dá, no tempo que fizer sentido e experimentar coisas na internet. É engraçado porque sinto que estou constantemente migrando para mais fundo, primeiro avisando no Instagram que viria para cá e agora avisando quem está aqui que estou de mudança para um outro lugar que só quem realmente estiver interessado vai acessar. Talvez a próxima fase seja enviar cartas?
Cinco destaques
Algumas das minhas páginas preferidas no momento:
Now: Uma página atualizada mensalmente para situar quem cair no site. É tipo um sobre mim, só que mais dinâmico. Na prática, gosto de entrar lá e ver como minhas prioridades e interesses foram passando. Ela foi inspirada em outros digital gardens que encontrei que aplicaram a ideia do Derek Silvers.
Diários de viagem: Algumas pessoas me pediram para fazer um destaque no Instagram com os lugares que fui em Buenos Aires, mas enquanto estive lá me empolguei e criei uma espécie de diário de viagem, que contempla todos os restaurantes que fui e mais alguns pensamentos e observações. Acho que é mais legal do que o destaque, mas se você não estiver no clima de ler minhas divagações e quiser só saber os restaurantes, na página de restaurantes eles estão todos reunidos também.
Coleção de dicas: Essa é bem inicial, mas acho que tem potencial. Sempre quis ter um lugar para reunir todas as dicas que me deparo ao navegar intensamente pela internet e resolvi reuni-las. Dicas de lugares, de playlists, de livros e tudo mais que eu for angariando ficarão nessa parte.
Tracker: É tipo um index da minha vida digital. Por enquanto, há um post com todas as newsletters que assino e um com todas as ferramentas digitais que ando usando. Pretendo incluir mais algumas coisas em breve.
Textos: É onde estão alocados todos os textos que enviei aqui pelo Substack e onde vou publicar os novos (sim, pretendo continuar escrevendo um pouco no estilo que escrevo aqui por lá também). Outros formatos que eu venha a experimentar, como contos de ficção ou ensaios, entrarão em outra tag.
É mesmo um adeus?
Sim e não! É um adeus porque o projeto dos 24 textos acabou e eu não estou mais com vontade de seguir por aqui no Substack de maneira regular, que seria manter, de fato, uma newsletter.
E não é um adeus porque vou continuar escrevendo no meu blog/site/jardim-digital/espaço-na-internet e talvez use o Substack de tempos em tempos para mandar uma ou outra atualização do que estiver fazendo por lá. E, como disse no texto da semana passada, não descarto mudar de ideia. Quem pode prever as voltas da vida?
É isso por hoje, acho que já falei o suficiente no último texto sobre esta newsletter e meus motivos para encerrá-la, então quero usar essas últimas linhas apenas para agradecer todo mundo que me acompanhou e tirou um tempinho da sua semana durante esses seis meses para me ler — e se você chegou no meio do caminho ou no finalzinho e quiser ler os textos anteriores, está tudo aqui. Andei pensando bastante sobre minhas expectativas x realidade com a newsletter e devo dizer que ela foi exatamente o suficiente, o que eu quis e o que eu consegui, e eu não poderia estar mais feliz com isso. Obrigada!
Quem quiser continuar me acompanhando, minha existência na internet está agora aqui (e continuo de leve no Instagram).
Ah, e acabei de incluir a ferramenta de comentários no site, mas meu formulário continua vivo. Se tiver alguma dúvida, ou quiser saber mais sobre tudo isso, é só mandar por lá que respondo em um texto no site ou no Instagram.
Um beijo e bom domingo,
Nathalia
Amei demais esse conceito de Jardim Digital!
E estou triste de só conhecer tua escrita hoje... Vou ler as outras edições (e te acompanhar por lá, com toda a certeza!)! =)
Adorei muito acompanhar tudinho por aqui e estarei por os outros caminhos! AMEI o jardim digital e me senti inspirada uma vez que meu Notion é muito isso rs! é onde eu consigo organizar tudo o que eu não consigo em Instagram, site e qlq outro espaço. Acho que possivelmente por não ter tido expectativas a não ser as de guardar memórias para mim e que todos os dias (de uns meses para cá) sinto vontade de compartilhar! Obrigada por inspirar Nath! <3